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domingo, 25 de setembro de 2011


 

O culto e o cultivo da criação

Reflexões sobre a vida, a fé, a ecologia, a terra e a água para crianças, adolescentes e lideranças.


Estamos retornando a terra para resgatar nossa vida, descobrir nossa dignidade e nossa complexa relação com todos os seres vivos. A sacralidade da terra nasce da nossa afirmação de fé, de que a natureza é dom de Deus, é mãe, fonte de todas as formas de vida. Esta consciência deve nos levar a agir com respeito e reverência pela terra, que na Amazônia é mais água e terra molhada da várzea. Ações coordenadas, diversificada, em unidade, trabalhando em conjunto com todas as igrejas. Nossas ações em relação à sacralidade da terra deve brotar da vida dos povos que habitaram por séculos nestes rios e florestas, suas tradições e práticas.

O texto de Gn 1. 27-31, nos fala da criação do ser humano o poder e o dever que Deus deu a este ser, ou seja, cuidar, zelar, cultivar e dominar toda a criação. Vivendo em harmonia com a perfeita ação criadora. Bem sabemos que o ser humano não cumpriu com seu dever e fez de seu direito uma devastação e destruição da natureza, que foi criada para receber, proteger e alimentar o ser humano.

A natureza gera riquezas à comunidade. É preciso explora-la, mas sem danificar. No contato com a perfeita criação de Deus o ar puro deve entrar em nossos pulmões para sentirmos este sopro de vida limpo, puro, com um perfume que nos embriaga de prazer, invadindo nosso ser. Quando em contato com a terra e a água, crianças e adolescentes parecem pequenas brasas que unidas umas às outras flamejavam com a potencialidade da natureza. Fazem do seu corpo uma extensão da natureza. Podemos perceber o regozijo da criatura em contato direto com a criação de Deus. Como é perfeita a natureza, como é bonito o que Deus fez. Toda essa beleza nos leva a assumir um compromisso: Fazer com que o culto à natureza nos oriente para o bom cultivo das belas riquezas naturais que temos iniciando com a conscientização dos que ainda estão abertos para o novo.

Nossas comunidades de fé podem desencadear um conjunto de ações para proteger o meio ambiente. Nossas ações precisam atingir primeiramente as mentes e os corações, pois sem amor e afeto não será possível cuidar da terra. Uma nova mentalidade de relação com a natureza pode nascer de processos educativos que geram consciência e ações coletivas e individuais. Nossas comunidades religiosas vivem nos ritmos da vida de Deus presente na história e nas etapas da vida humana (nascimento, morte e ressurreição). A vida humana também se move junto com a natureza. Rememorar, celebrar esta relação intima com a terra em tempos específicos, em nossas igrejas, faz parte do conjunto de ações para proteger a Amazônia.

Estamos em um tempo de democracia, mas é uma democracia de luta pela preservação através da conscientização. É o tempo no qual crianças, jovens, adultos e todas as autoridades eclesiais, cientificas e políticas são protagonistas coletivos no cuidado, no culto e cultivo da criação. Para sermos protagonistas precisamos conhecer e refletir sobre esse conhecimento.

Nos propomos ousadamente à ressignificação dos termos dominar e sujeitar de Gn 1.26-29. O termo dominar foi entendido no mesmo sentido em que dominamos uma língua, ou, conhecemos uma terra, e o termo sujeitar no sentido de tornar a terra sujeito e não um objeto do ser humano. A terra e o ser humano como criação divina. Essa nova compreensão dos termos implica nossa responsabilidade de conhecer a terra, sinônimo de vida, e recriar o mundo corrompido pelo próprio ser humano, de modo que o cultivo da criação seja um diálogo entre dois sujeitos: os seres humanos e a natureza.

Nossas ações devem partir da realidade local, elaborando material educativo que estimule nossas igrejas a refletir e agir em favor da proteção ambiental. Os vários setores da sociedade local precisam ser envolvidos e atingidos pelas campanhas, usando dos meios de comunicação de massa. É no tecer das palavras que surge o compromisso de todos e todas para fazer o que é mais conveniente.

Um dos temas geradores pode ser o de recriar espaços. Para recriar o espaço é necessário recriar o “sentimento de pertencimento” que está ligado ao passado de cada um e dar esperanças para o futuro. Um passado que lhes concedeu uma base para a construção permanente de sua identidade, relembrado em cada pé de flor, em cada pé de árvore ou banho de rio. Não importa o que simbolize este passado, importa que essas coisas externas lhes devolvam o sentimento de pertencer a algum lugar. Recriar o sentimento de pertencimento é necessário para restaurar a possibilidade do cuidado com a natureza, com a vida familiar e comunitária para assim revitalizar os valores, as concepções e a responsabilidade de cada um com a bela criação divina.

Há a esperanças de que o ser humano seja valorizado e respeitado pelo que ele é. E este respeito virá pela qualidade da semente que semeia, para si e para o próximo. Esta semente recheada de conhecimento e amor prenuncia uma colheita de frutos recheados de carinho, respeito e amor pelo seu semelhante, pela criação e seu criador.

Nós, como representantes de entidades religiosas sabemos de nossas limitações, pois, muitas vezes, queremos levar Deus e Deus já está lá; queremos transformar o mundo e as mentes por nossa própria força e isso não depende de nós; queremos ver os frutos imediatos e por ironia os frutos não amadurecem do dia para a noite; queremos dar lições e recebemos lições; queremos tirar a dor e o sofrimento causados pelos conflitos e esquecemos que eles fazem parte da caminhada. Afinal, para haver ressurreição, houve antes a cruz.

Enfim, nos perguntamos sobre a nossa real função ou missão nessa caminhada de preservação do meio ambiente, mas a resposta não está em nós. O Espírito Santo nos responde dizendo: “A vossa missão não é apenas fazer celebrações, palestras e folhetos educativos, mas também estar junto com o povo e o governo, pondo as mãos na terra e na água e não apenas nos livros e microfones. Sim, devemos celebrar o culto e o cultivo da criação tendo contato direto com toda a criação divina”. Celebrarmos juntos a vida conversando, ouvindo, sorrindo, abraçando, dançando, brincando, cantando, orando, partilhando, alegrias e tristezas. Essa celebração é a festa da vida. Uma festa que contempla a concretude da vida; a vida como um culto a Deus, a vida como um todo, a vida como ela é. Sofrimento e ódio, glória e amor, luta e esperança.

Nossas ações devem ser globalizadas, compreendendo as interconecções tanto na perspectiva ecológica, como sócio-econômica. A Amazônia é parte tanto da cadeia de vida do planeta como parte dos grandes interesses econômicos atuais. Cabe as nações do mundo, principalmente aquelas que não assinaram ou não implementaram adequadamente os compromissos internacionais de proteção ambiental, de fazerem sua parte nos projetos de sustentabilidade, reciclagem, redução da poluição, de relembrar nossa história de relação com a terra.

O povo espera que lancemos uma nova semente. Uma semente que transforme a terra improdutiva em alimento precioso, água poluída em fonte de vida. Uma semente que transforme a própria vida em sementes de esperança. Sementes lançadas no corpo e na alma, para que nos desafiem a cultivar e, finalmente, celebrar a colheita farta que virá. Sementes de fé e de vida que lembrem que a luta continua, a reflexão continua.

Compreensão Sobre a Vida no Planeta

Como religiosos e religiosas de diversas religiões e Igreja Cristãs, fundamos nossa compreensão sobre a vida no planeta numa mirada Teológica, cosmocêntrica, humanitária e macro ecumênica.

Afirmamos que a terra é sagrada e professamos, que tudo o que nela respira e subsiste, tem o sinal original e divino do Deus Criador, Salvador e Vivificador.

Afirmamos que a terra é sagrada e nos colocamos diante dela com reverencia, admiração e respeito, recebendo dela o alimento essencial para a subsistência e evolução da vida.

Afirmamos que a terra é sagrada e, por isso é nossa missão continuar criando-a, num exercício cósmico e cotidiano, como de um artista, com o objetivo de representa-la aperfeiçoando-a e não de explora-la e destruí-la.

Afirmamos que a terra é sagrada e por isso combatemos com veemência a falsa ideologia religiosa, políticas, econômicas, que defendem, que "os recursos naturais são limitados e que nunca irão se acabar".

Afirmamos que a terra é sagrada e, por isso denunciamos profeticamente, toda forma de violação, mercantilização e extinção, de todas e qualquer foram de espécies animais, e vegetais ou minerais existentes. Afirmamos que a terra é sagrada quando sabemos dela cuidar, decidimos ter com ela uma relação fraternal de amor e afeto, nos colocando a serviço de toda a criação, como verdadeiros pedagogos, que ensinam e aprendem a sublime e exata forma comunicação interativa e de convivência pacifista.

Afirmamos que a terra é sagrada quando sentimos com ela suas dores e sofrimentos, alegrias e realizações, sonhos e utopias, como um irmão e amigo sente, choram e se alegra com o outro.

Afirmamos que a terra é sagrada ao defende-la do inimigo predador que atua sem piedade, transformando-a em objeto de satisfação egoísta e fonte de lucro pelo lucro.

Afirmamos que a terra é sagrada quando fazermos uma verdadeira aliança assumindo os erros do passado e nos comprometemos com a defasa da justiça e do direito, no presente e no futuro.

Afirmamos que a terra é sagrada, quando lutamos e apoiamos ações humanistas e libertárias, que dão razões viáveis de nossa fé, de nossa esperança e de nosso amor. Principalmente de nosso amor, porque ele permanece para sempre, dele dependemos e nele movemos e somos.

Por fim, afirmamos que a terra é sagrada, quando temos consciência e sabedoria, capazes de olhar e sentir o pulsar da vida verdadeira, que se releva e irrompe na beleza e exuberância das águas, do toque artístico enverdecido das florestas, nas melodias e encantadoras da passarada, nas vigilâncias ecóicas dos principais guardiões e guardiãs da criação: os povos das florestas e seus fieis descendentes e seguidores.

A alternativa que propomos é esta: esforçar para viver aquilo que afirmamos. Precisamos antes de tudo, tomar cada dia mais consciência e trabalhar incansavelmente para formar novas e livres consciências, que compreendas as reais limitações e escassez de nosso planeta. Precisamos aprender a consumir exata e somente aquilo que nos é necessário, como nos ensinou Jesus Cristo em sua oração: “pai nosso... dá-nos o pão cotidiano” que precisamos para viver com dignidade e “livra-nos do tentador” que nos seduz ao excesso e ao acúmulo.

Pe. Ricardo Castro
Cat. Traudi Margarida Kraemer
ulo Sérgio

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